sexta-feira, 28 de outubro de 2011

PARTE-3 - Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso



Parâmetros Curriculares Nacionais do ER - PARTE-3
 
2. CRITÉRIOS PARA ORGANIZAÇÃO E SELEÇÃO  DE CONTEÚDOS E SEUS PRESSUPOSTOS DIDÁTICOS
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2.1. CARACTERIZAÇÃO GERAL DO ENSINO RELIGIOSO

Hoje, o fenômeno religioso é a busca do Ser frente à ameaça do Não-ser. Basicamente a humanidade ensaiou quatro respostas possíveis como norteadoras do sentido da vida além morte:
a Ressurreição
a Reencarnação
o Ancestral
o Nada
Cada uma dessas respostas organiza-se num sistema de pensamento próprio, obedecendo a uma estrutura comum. E é dessa estrutura comum que são retirados os critérios para organização e seleção dos conteúdos e objetivos do Ensino Religioso. Assim, na pluralidade da Escola brasileira, esses critérios para os blocos de conteúdos são:
Culturas e Religiões
Escrituras Sagradas
Teologias
Ritos
Ethos

2.2. EIXOS ORGANIZADORES DO CONTEÚDO

2.2.1. Culturas e Tradições Religiosas

É o estudo do fenômeno religioso à luz da razão humana, analisando questões como: função e valores da tradição religiosa, relação entre tradição religiosa e ética, teodicéia, tradição religiosa natural e revelada, existência e destino do ser humano nas diferentes culturas.
Esse estudo reúne o conjunto de conhecimentos ligados ao fenômeno religioso, em um número reduzido de princípios que lhe servem de fundamento e lhe delimitam o âmbito da  compreensão. Assim, não se separa das ciências que se ocupam com o mesmo objeto como: filosofia da tradição religiosa, história e tradição religiosa, sociologia e tradição religiosa, psicologia e tradição religiosa, nem delimita, de maneira absoluta e definitiva, um critério epistemológico unívoco.

2.2.1.1. Conteúdos

Conteúdos estabelecidos a partir de:
filosofia da tradição religiosa: a idéia do Transcendente, na visão tradicional e atual;
história e tradição religiosa: a evolução da estrutura religiosa nas organizações humanas no
decorrer dos tempos;
sociologia e tradição religiosa: a função política das ideologias religiosas;
psicologia e tradição religiosa: as determinações da tradição religiosa na construção mental do
inconsciente pessoal e coletivo.

2.2.2. Escrituras Sagradas e/ou Tradições Orais

São os textos que transmitem, conforme a fé dos seguidores, uma mensagem do transcendente, onde pela revelação, cada forma de afirmar o Transcendente faz conhecer os seres humanos seus mistérios e sua vontade, dando origem às tradições. E estão ligados ao ensino, à pregação, à exortação e aos estudos eruditos.
Contém a elaboração dos mistérios e da vontade manifesta do transcendente com objetivo de buscar orientações para a vida concreta neste mundo. Essa elaboração se dá num processo de tempo-história, num determinado contexto cultural, como fruto próprio da caminhada religiosa de um povo, observando e respeitando a experiência religiosa de seus ancestrais, exigindo a posteriori uma interpretação e uma exegese.
Nas tradições religiosas que não possuem o texto sagrado escrito, a transmissão é feita na tradição oral.

2.2.2.1. Conteúdos

Conteúdos estabelecidos a partir de:
revelação: a autoridade do discurso religioso fundamentada na experiência mística do emissor que a transmite como verdade do Transcendente para o povo;
história das narrativas sagradas: o conhecimento dos acontecimentos religiosos que originaram  os mitos e segredos sagrados e a formação dos textos;
contexto cultural: a descrição do contexto socio-político-religioso determinante na redação final dos textos sagrados;
exegese: a análise e a hermenêutica atualizadas dos textos sagrados.

2.2.3. Teologias

É o conjunto de afirmações e de conhecimentos elaborados pela religião e repassados para os fiéis sobre o Transcendente, de modo organizado ou sistematizado.
Como Transcendente é a entidade ordenadora e o senhor absoluto de todas as coisas, expressa-se este estudo nas verdades da fé. E a participação na natureza do Transcendente é entendida como graça e glorificação, respectivamente no tempo e na infinidade. Para alcançar essa infinidade o ser humano necessita passar pela realidade última da existência do ser, interpretada como ressurreição, reencarnação, ancestralidade, havendo espaço para a negação da vida além da morte.

2.2.3.1 Conteúdos

 Conteúdos estabelecidos a partir de:
divindades: a descrição das representações do Transcendente nas tradições religiosas;
verdades de fé: o conjunto de mitos, crenças e doutrinas que orientam a vida do fiel em cada tradição religiosa;
vida além da morte: as possíveis respostas norteadoras do sentido da vida: a ressurreição, a reencarnação, a ancestralidade e o nada.

2.2.4. Ritos

É a série de práticas celebrativas das tradições religiosas formado um conjunto de:
a) rituais que podem ser agrupados em três categorias principais:
os propiciatórios que se constituem principalmente de orações, sacrifícios e purificações;
os divinatórios que visam conhecer os desígnios do Transcendente em relação aos acontecimentos futuros;
os de mistérios que compreendem as várias cerimônias relacionadas com certezas práticas limitadas a um número restrito de fiéis, embora também haja uma forma externa acessível a todo o povo;
b) símbolos que são sinais indicativos que atingem a fantasia do ser, levando-o à compreensão de alguma coisa;
c) espiritualidade que alimentam a vida dos adeptos através de ensinamentos, técnicas e que permitem ao crente uma relação imediata com o Transcendente.

 2.2.4.1. Conteúdos

Conteúdos estabelecidos a partir de:
rituais: a descrição de práticas religiosas significantes, elaboradas pelos diferentes grupos religiosos;
símbolos: a identificação dos símbolos mais importantes de cada tradição religiosa, comparando seus(s) significado(s);
espiritualidade: o estudo dos métodos utilizados pelas diferentes tradições religiosas no relacionamento com o Transcendente, consigo mesmo, com os outros e o mundo.

 2.2.5 Ethos

É a forma interior da moral humana em que se realiza o próprio sentido do ser. É formado na percepção interior dos valores, de que nasce o dever como expressão da consciência e como resposta do próprio “eu’’ pessoal. O valor moral tem ligação com um processo dinâmico da intimidade do ser humano e, para atingi-lo, não basta deter-se à superfície das ações humanas.
Essa moral está iluminada pela ética, cujas funções são muitas, salientando-se crítica e a utópica. A função crítica, pelo discurso ético, detecta, desmascara e pondera as realizações inautênticas da realidade humana. A função utópica projeta e configura o ideal normativo das realizações humanas.
Essa dupla função concretiza-se na busca de “fins” e de “significados”, na necessidade de utopias globais e no valor inalienável do ser humano e de todos os seres, onde ele não é sujeito nem valor fundamental da moral numa consideração fechada de si mesmo.

2.2.5.1. Conteúdos

Conteúdos estabelecidos a partir de:
alteridade: as orientações para o relacionamento com o outro, permeado por valores;
valores: o conhecimento do conjunto de normas de cada tradição religiosa apresentado para os fiéis no contexto da respectiva cultura;
limites: a fundamentação dos limites éticos propostos pelas várias tradições religiosas.


 
Disponível em <http://www.conerpassofundo.com.br/index.php/parametros-curriculares/51-parametros-curriculares-parte-3.html>. Acesso em: 28 out. 2011.

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